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ESPAÇO LISO CIA. DE DANÇAsexta-feira, 4 de setembro de 2015
às
07:26
A Espaço Liso Cia. de Dança deu uma repaginada na sua identidade visual para comemorar o seu quinto aniversário. A concepção da nossa nova logomarca é de FERNANDO ALVES ou como ele gosta de ser chamado FERNANDÍSSIMO ALVES.
Assim como todos os espetáculos da Cia. a nossa marca nasce de um conceito consistente para melhor comunicar as características dos nossos trabalhos cênicos. Espaço Liso, pensamento proposto pelo filósofo Gilles Deleuze, é um espaço aberto para novas possibilidades e sensibilidades, aberto ao nomadismo e em constante transformação, assim pensamos a nossa dança, assim pensamos a nossa arte.
Espetáculo de dança Devir é apresentado no Festival de Artes Cênicas
A intensidade das cores, sons e os temas densos abordados nos filmes do cineasta Pedro Almodóvar, inspiraram o espetáculo de dança “Devir”, apresentado neste domingo, 30 de agosto, no Teatro Atheneu. Produzido pelo “Espaço Liso Cia. de Dança”, a apresentação compõem a programação do Festival Sergipano de Artes Cênicas 2015.
Criado em 2013, “Devir” carrega na desempenho de seus dançarinos a identificação pessoal do coreógrafo Ewetton Nunes com Almodóvar. Com cenários móveis, elementos estéticos bem definidos, utilização de recursos audiovisuais e interpretação marcante, o espetáculo transita entre diferentes pontos, recorrentes em narrativas das obras do cineasta.
A interpretação de “Devir” se enquadra na modalidade de “dança teatro”, conceito que surgiu na Alemanha no final da década de 20 de ganhou força a partir da década de 70. Por meio dela, as coreografias incorporam movimentos do cotidiano e os movimentos abstratos ganham forma de narrativa. A dança permite transitar por várias ambientações, dando ao artista a possibilidade de dialogar com todos os elementos.
Promovido pelo Instituto Banese em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), o Festival Sergipano de Artes Cênicas engloba o V Festival de Teatro e a IX Semana de Dança. Ao todo serão mais de 30 apresentações distribuídas entre os teatros Atheneu, Lourival Batista, Tobias Barreto, praças e outros espaços públicos da cidade. Todos os espetáculos têm entrada franca. Confira a programação:
31 de Agosto
Local: Teatro Atheneu
21H - O CHÁ (CIA DE TEATRO MONTECOURT - TEATRO) - SE
01 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - DANDO NÓ EM PINGO D'ÁGUA (EITCHA COMPANHIA DE TEATRO - TEATRO)SE
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - ÁGUAS (GRUPO UM QUÊ DE NEGRITUDE - DANÇA) - CONVIDADO (SE)
02 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - COMO NASCE UM SANTO (GRUPO TEATRAL BOCA DE CENA) - SE
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - ENIGMA (CIA NOVA ERA - DANÇA) - CONVIDADO - SE
21H - RITUAL DE FOGO (CIA CONTEMPODANÇA - DANÇA) - SE
03 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - A FARSA DOS OPOSTOS (GRUPO IMBUAÇA - TEATRO) - CONVIDADO - SE
Local: Teatro Atheneu
20H - A ROSA AO VENTO E CORPO ENCENA (CIA DE DANÇA LOUCURAT - DANÇA) - SE
20h30 - DESABAFO (IRMÃOS DE RUA - DANÇA) - SE
04 de Setembro
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - SENTIDO PRÓPRIO (CIA NELSON SANTOS - DANÇA) - SE
21H - SERGIPE MINHA TERRA (CIA CARPE DIEM - DANÇA) - SE
06 de Setembro
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - O DOENTE IMAGINÁRIO (STULTIFERA NAVIS - TEATRO) - SE
08 de Setembro
Local: Teatro Atheneu
16H - O FILHO DA FIGUEIRA (MAMULENGO CHEIROSO - TEATRO) - SE
20H - NA CENTRAL DO BRASIL (COLETIVO NOSNAESTRADA - TEATRO)- SE
09 de Setembro
Local: Museu da Gente Sergipana
16H - O AMOR DE FILIPE E MARIA E A PELEJA DE ZERRAMO E LAMPIÃO (TEATRO DE CORDEL DA RABECA - TEATRO) - SE
Local: Praça Fernando Collor (CIRCO GOLD STAR)
19H30 - O CIRCO SEM LONA (Cia Gentileza de Artes Integradas) - SE
20H30 - A ARTE NO PICADEIRO (CIRCO GOLD STAR - CIRCO) - SE
10 de Setembro
Local: Museu da Gente Sergipana
16H - FAZ DE CONTA (COMPANHIA PONTO DE TEATRO - TEATRO) - SE
16H30 - DESCORTINANDO SERGIPE (CIA COBRAS E LAGARTOS - TEATRO) - SE
“DEVIR”, da “Espaço Liso Cia. de Dança” com coreografia, concepção e direção de Ewertton Nunes, será apresentado hoje, no Teatro Atheneu, às 21, no Festival Sergipano de Artes Cênicas 2015 com entrada franca.
O projeto tenciona dar continuidade à pesquisa da companhia em aproximar a dança contemporânea de outras linguagens tais como o teatro e o audiovisual. Esteticamente inspirado na filmografia do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o espetáculo extrai das narrativas dos seus filmes, a essência de personagens complexas que agem impulsionadas pelos desejos e que por eles são modificadas o tempo inteiro, num devir constante da vida onde a morte seria o limite desse processo. Nessa perspectiva, as transformações aconteceram dentro e fora das personagens. Trazendo à tona reflexões sobre gênero, condutas morais, violências e limites éticos. O espetáculo deixa no ar algumas provocações: Vale tudo pelo desejo? Eu serei o mesmo no instante seguinte? Até que ponto a liberdade não é violenta?
Um espetáculo forte cenicamente, poético e elaborado para gerar reflexão filosófica sobre transformação permanente dos seres para o seu máximo ou para o seu mínimo, como a água que congela ou derrete. Os intérpretes dançam a transitoriedade do presente frente aos acontecimentos, o presente como uma consequência do passado e um processo para o futuro que começa no segundo seguinte. A predominância de cores fortes no cenário, figurino e iluminação faz alusão ao estado bruto dos sentimentos humanos, dos desejos intensos. Projeções e elementos de cena dão poesia à encenação. A ideia de “corpos-líquidos” foi aplicada na concepção coreográfica com finalidade de comunicar o transitório, o adaptável dos corpos no contato com o espaço e com outros corpos e outras sensibilidades.
“Visto que a temporalidade predominante do ser é a do presente (com o passado e o futuro como seus modos deficientes), o puro devir-sem-ser significa que dever-se-ia evitar o presente –ele nunca “ocorre efetivamente”, ele é “sempre iminente e já passou”. (Gilles Deleuze)A p
A Espaço Liso Cia. De Dança dialoga com a proposta de Almodóvar quando apropria-se de outras artes para se fazer comunicar . A inserção de uma dramaturgia nos espetáculos é uma característica da Cia. desde a fundação. Devir extrai da obra do espanhol alguns dos temas de maior recorrência em sua filmografia: a traição, a obsessão, a solidão, a sexualidade transgressiva e o transformismo; as sequências com revelações, reviravoltas, crueldades, assassinatos; os fetiches sexuais , as motivações pouco convincentes e o inverossímil. Em Almodóvar o ser e não ser alternam-se na mesma aparição, de forma que é impossível fixá-los através da contradição pois eles dançam, sem parar, na margem “entre a delícia e a desgraça, entre o monstruoso e o sublime”. Devir busca o paradoxo dessa coexistência de realidades contraditórias, sem que nenhuma delas reivindique o ser de sua verdade.
O espetáculo da Espaço Liso aproxima a linguagem da dança contemporânea do universo estético do cineasta espanhol Pedro Almodóvar e do pensamento Deleuziano sobre o Devir. Devir significa a mudança constante que o ser humano passa em sua história. A palavra foi utilizada primeiramente por Heráclito e seus seguidores. A metáfora das águas de um rio, que continua sempre o mesmo, mesmo que suas águas mudem constantemente explicaria o devir . É a eterna mudança do homem, o qual todo dia é um novo ser, todo dia é diferente do dia anterior.
As personagens criadas por Almodóvar em suas obras servem para exemplificar o constante estado de transformação das coisas no contato com os acontecimentos. E a força que impulsiona esses movimentos do passado para o presente e do presente para o futuro é o desejo. Nessa perspectiva, a inspiração nos conflitos propostos pelo cineasta provocou na companhia o interesse em dançar uma obra rica em cores, conceitos, psicologia e acima de tudo transitoriedade.
"Devir é, a partir das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que se possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, entre as quais instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade e lentidão, as mais próximas daquilo que estamos em vias de tornarmos, e através das quais nos tornamos. É nesse sentido que o devir é o processo do desejo. Esse princípio de proximidade ou de aproximação é inteiramente particular, e não reintroduz analogia alguma. Ele indica o mais rigorosamente possível uma zona de vizinhança ou de co-presença de uma partícula quando entra nessa zona". (Devir em Deleuze e Guattari - Mil Platôs )
FICHA TÉCNICA
Intépretes: Catarina Andrade, Eden Brísio, Ewertton Nunes, Luanda Ribeiro, Rosana Costa, Fábio São José
Grazzy Coutinho é atriz (DRT 1060), Professora de teatro, pesquisadora de Crítica Teatral sob orientação da Dra em Artes Cênicas Letícia Andrade; é integrante do grupo de pesquisa Arte, Diversidade e Contemporaniedade da Universidade Federal de Sergipe (CNPQ), é integrante do PIBIC sobre "Estudo do Texto Dramático Sergipano" sob a orientação do Dr em Letras Carlos Mascarenhas; é integrante do PIBIX "Quintas Cênicas" sob a orientação da Dra. em Teatro-Educação Urânia Maia.
O espetáculo DEVIR foi apresentado ontem, dia 31 Agosto, no Teatro Atheneu, às 21h dentro do FESTIVAL SERGIPANO DE ARTES CÊNICAS 2015. O público compareceu e pode desfrutar conosco de um momento especial. Era possível sentir do palco a troca que ocorria entre nós e a plateia.
Como é de costume, a espaço Liso conversou com os presentes sobre a apresentação da noite. Um momento fundamental para entender se o caminho que estamos traçando é o correto.
A partir das perguntas que surgiram conseguimos falar um pouco mais sobre a concepção de Devir e a pesquisa interdisciplinar que a Espaço Liso possui. Os comentários feitos também nos deixaram extremamente realizados e motivados a seguir em frente. As pessoas se manifestaram também na internet, foi o que fez a Professora de Dança e bailarina da Cia. Contempodança, Leilinha Nascimento:
São manifestações como essa, sinceras e com o propósito de contribuir, que nos deixam confiantes de que DEVIR é um espetáculo que consegue chegar onde se propõe. O depoimento acima é de uma artista que já viu e experimentou esteticamente muita coisa, mas ainda assim, estava de alma aberta para sentir. Quando uma obra consegue ultrapassar os mais técnicos dos olhares, eu acredito que ela possui a beleza transformadora necessária.
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ESPAÇO LISO CIA. DE DANÇAterça-feira, 25 de agosto de 2015
às
09:42
Secult divulga programação do Festival de Artes Cênicas 2015
O Instituto Banese e a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) divulgou nesta quarta-feira, 20, a lista dos espetáculos aprovados para o Festival de Artes Cênicas 2015, que envolve o V Festival Sergipano de Teatro e a IX Semana de Dança. Ao todo, 29 projetos atenderam as determinações do edital público de seleção, nas categorias de teatro, dança e circo.
Promovido pelo Instituto Banese e pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult), através do Fundo de Desenvolvimento Cultural e Artístico (Funcart), o Festival contempla público de diversos gostos e faixas etárias. Os espetáculos serão apresentados entre os dias 25 de agosto e 13 de setembro, nos Teatros Tobias Barreto, Atheneu, Lourival Batista e pelas ruas de Aracaju.
Para o secretário de Estado da Cultura, Elber Batalha, o Festival é um meio democrático de incentivar e fomentar as artes cênicas em Sergipe. “A Secult tem fortalecido as artes cênicas através de iniciativas efetivas, a exemplo da Temporada Mariano, que só entre março e junho já atingiu mais de 1200 expectadores, como também com o Edital Cezar Macieira” ressalta.
Além de apoiar o artista, a intenção do Festival é incentivar a formação de plateia, levando cultura para o público e tornando a cena teatral cada vez mais sustentável. Ao todo o edital disponibilizou R$ 120mil para ser dividido entre as três categorias. O apoio cultural varia de R$700 a R$4mil, de acordo com o tempo de apresentação e o número de componentes de cada espetáculo.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
25 de Agosto
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - VULCÃO (CAIXA CÊNICA - TEATRO) - SE
26 de Agosto
Local: Teatro Lourival Batista
20h - SENHORA DOS RESTOS (DICURI PRODUÇÕES - TEATRO) - SE
28 de Agosto
Local: Teatro Lourival Batista
17H - ANANSE, UMA LENDA AFRICANA (MAIA PRODUÇÕES - TEATRO) - SE
Local: Teatro Atheneu
21H - TRÊS FLORES (QUIPROCÓ - TEATRO) - MG
29 de Agosto
Local: Teatro Lourival Batista
20H - BOI DE BARRO FRAGMENTOS (CÉSAR LEITE - TEATRO) - SE
Local: Teatro Atheneu
21H - TRÊS FLORES (QUIPROCÓ - TEATRO) - MG
30 de Agosto
Local: Teatro Tobias Barreto
17H - BR 00 -SALTIMBANCO NA ESTRADA (CIA UAAAU! - TEATRO) - SE
Local: Teatro Atheneu 21H - DEVIR (ESPAÇO LISO DE DANÇA - DANÇA) - SE
31 de Agosto
Local: Teatro Atheneu
21H - O CHÁ (GRUPO MONTECOURT - TEATRO) - SE
01 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - DANDO NÓ EM PINGO D'ÁGUA (EITCHA COMPANHIA DE TEATRO - TEATRO)SE
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - ÁGUAS (GRUPO UM QUÊ DE NEGRITUDE - DANÇA) - CONVIDADO (SE)
02 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - COMO NASCE UM SANTO (GRUPO TEATRAL BOCA DE CENA) - SE
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - ENIGMA (CIA NOVA ERA - DANÇA) - SE
21H - RITUAL DE FOGO (CIA CONTEMPODANÇA - DANÇA) - SE
03 de Setembro
Local: Praça Fausto Cardoso
16H - A FARSA DOS OPOSTOS (GRUPO IMBUAÇA - TEATRO) - CONVIDADO - SE
Local: Teatro Atheneu
20H - A ROSA AO VENTO E CORPO ENCENA (CIA DE DANÇA LOUCURAT - DANÇA) - SE
20h30 - DESABAFO (IRMÃOS DE RUA - DANÇA) - SE
04 de Setembro
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - SENTIDO PRÓPRIO (CIA NELSON SANTOS - DANÇA) - SE
21H - SERGIPE MINHA TERRA (CIA CARPE DIEM - DANÇA) - SE
06 de Setembro
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - O DOENTE IMAGINÁRIO (STULTIFERA NAVIS - TEATRO) - SE
08 de Setembro
Local: Teatro Atheneu
16H - O FILHO DA FIGUEIRA (MAMULENGO CHEIROSO - TEATRO) - SE
20H - NA CENTRAL DO BRASIL (COLETIVO NOSNAESTRADA - TEATRO)- SE
09 de Setembro
Local: Museu da Gente Sergipana
16H - O AMOR DE FILIPE E MARIA E A PELEJA DE ZERRAMO E LAMPIÃO (TEATRO DE CORDEL DA RABECA - TEATRO) - SE
Local: Praça Fernando Collor (CIRCO GOLD STAR)
19H30 - O CIRCO SEM LONA (Cia Gentileza de Artes Integradas) - SE
20H30 - A ARTE NO PICADEIRO (CIRCO GOLD STAR - CIRCO) - SE
10 de Setembro
Local: Museu da Gente Sergipana
16H - FAZ DE CONTA (COMPANHIA PONTO DE TEATRO - TEATRO) - SE
16H30 - DESCORTINANDO SERGIPE (CIA COBRAS E LAGARTOS - TEATRO) - SE
Local: Lourival Batista
19H - CERIMÔNIA SATED
11 de Setembro
Local: Museu da Gente Sergipana
16H - FARRATATAIA SERGIPANA (GRUPO DE TEATRO OITEIROS - TEATRO) - SE
Local: Lourival Batista
20H - PASSAGEM DAS HORAS (CIA DE TEATRO VINHO E ALMA - TEATRO) - SP
12 de Setembro
Local: Lourival Batista
20H - PASSAGEM DAS HORAS (CIA DE TEATRO VINHO E ALMA - TEATRO) - SP
13 de Setembro
Local: Viaduto do D.I.A. e Hall do Teatro Tobias Barreto
19H30 - ÁGUAS (TRÊS MARIAS - CIRCO) - SE
Local: Teatro Tobias Barreto
20H - DOMUM (JULIA DELMONDES - DANÇA) - SE
20H30 - MENINA MIUDA (GRUPO DE TEATRO ATUALONA - TEATRO) - SE
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ESPAÇO LISO CIA. DE DANÇAdomingo, 19 de julho de 2015
às
08:05
Quando temos a manifestação do público sobre o trabalho que colocamos nos palco, temos a certeza de que estamos atingindo o objetivo principal do nosso trabalho: fazer pensar. Em DEVIR sempre temos manifestações, respostas, conversas que muito nos motivam a prosseguir... Um dos exemplos que posso dar é a manifestação do artista EDUARDO FREITAS.
A postagem feita por Eduardo nos motiva a acreditar que DEVIR, da ESPAÇO LISO CIA. DE DANÇA ainda pode ser levado a muita gente e com a mesma finalidade: sentir e pensar.
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ESPAÇO LISO CIA. DE DANÇAterça-feira, 14 de julho de 2015
às
08:30
O espetáculo "DEVIR" participou da Temporada Mariano de Artes 2015. O maior ganho de mais esse momento da Espaço Liso Cia de Dança foi o retorno do público presente e também da crítica. Após os espetáculos sempre procuramos um diálogo com o espectador para que a partir das percepções individuais e coletivas possamos aprimorar os espetáculos desenvolvidos. A plateia que compareceu à Temporada Mariano era diversa, formada por pessoas que nunca tinham visto um espetáculo de dança, professores universitários e também críticos. Uma das críticas publicadas foi feita por Feliciano José, e as impressões expostas por ele estão em consonância com as opiniões expressas pelo público em geral.
“DEVIR”, de Ewertton Nunes – Dançando Almodóvar no Espaço Liso
Por Luciano Freitas*
“Tudo
flui e nada permanece, tudo dá forma e nada permanece fixo.
Você
não pode pisar duas vezes no mesmo rio,
pois
outras águas e ainda outras, vão fluir.”
(Heráclito
de Éfeso, 5.000 a.C.)
Logonos primeiros instantes do espetáculo "Devir", o
espectador pode ter a estranha sensação de ter sido subitamente, sem nenhum
aviso, transportado para o interiorde um filme de cinema: Após a
exibição dos créditos de abertura, com a imortal canção 'Ne me quite
pas' como música de fundo, a cena inicial de um notório filme do diretor
espanhol Pedro Almodóvar se desenrola diante de nossos olhos. Parcialmente
privados de nossa própria identidade coletiva pela escuridão da platéia, nos tornamos
a voz autoritária que ordena os passos minuciosamente coordenados de um joguete
erótico.
A
diferença fundamental aqui é que o olhar não está mais prisioneiro da câmera.
Liberado dos planos, recortes e re-enquadramentos, típicos da linguagem cinematográfica,
o espectador pode olhar por quanto tempo quiser, para o que quiser - ou desviar
o olhar, se puder... E há muito que
olhar. Os corpos dos atores dançam dramas curtos e intensos, movem-se
atleticamente por toda a extensão do palco, espreitam-se, tocam-se, escapam,
perseguem-se, colidem, submetidos a uma força tão irrefutável quanto a da
própria lei da gravidade: alei do desejo. Nem sempre é possível
definir qual personagem se sujeita a quem. Até mesmo a submissão, nesta
frenética correnteza de psicodramas, pode ser paradoxalmente imposta ao
outro.
Como
nos filmes de Almodóvar, teatro e cinema se permeiam, comunicam-se. Figurino,
iluminação e elementos de cena se misturam à projeção de imagens da própria
peça em um telão no fundo do palco. Duas câmeras fixas e uma móvel registram as
cenas em diversos ângulos, projetam metalinguisticamente
as cenas, ora devolvendo as tramas cinematográficas ao seu habitat
natural - a tela grande - ora projetando as expressões das personagens em
monumentais recortes de luz e sombra, ora compondo um meta-cenário, ao destacar
elementos críticos da ação e aproximá-los.
Embutido no corpo do espetáculo, o aparato audiovisual opera
simultaneamente no nível da vigilância eletrônica e do voyeurismo.
Pausas para respirar são promovidas pelo silêncio e total escuridão no curto
intervalo que antecede cada uma das músicas-tema. De brinde, há um
desconcertante momento de "alívio cômico", onde a temática andrógina,
típica do diretor espanhol, se encontra da maneira mais improvável possível com
a irreverência nordestina de Jackson do Pandeiro!
Ao
final do espetáculo, os atores convidam o público para um bate-papo (agora já
estão todos íntimos... público e atores devassaram-se uns aos
outros...). Ewertton Nunes -
inquieto escritor-diretor-ator-coreógrafo-dançarino sergipano - ladeado pelos
versáteis membros da Espaço LisoCia. de Dança, compartilha o
processo criativo, relatos, curiosidades, discutem abertamente as ressonâncias
do evento. Uma deliciosa sobremesa para o espírito que acaba de banquetear-se.
*Luciano Freitas é Servidor Público da Educação
e aluno do curso de Comunicação Social/Audiovisual da UFS