Em Mil Platôs, Deleuze e Guattari propõem uma nova ontologia do espaço categorizando-o em estriado e liso. O espaço estriado seria instituído pelo aparelho de Estado, enquanto o liso seria promovido pela máquina de guerra. O primeiro é sedentário. O segundo nômade. O estriado é métrico e dimensional. O liso é não métrico e direcional, é um espaço intensivo, mais do que extensivo, de distâncias e não de medidas. No espaço liso há um vetor, uma direção e não uma dimensão. Ele é construído pelas operações locais de mudanças de direção, pelo fluxo. Essas mudanças de duração derivam da própria natureza do percurso. O espaço liso é formado por acontecimentos ou necessidades, enquanto o estriado é constituído por “coisas formadas e percebidas”. O liso é um espaço de afectos, o estriado de propriedades. Enquanto no espaço estriado as formas organizam uma matéria, no liso os materiais revelam vetores e sintomas, instrumentos básicos para averiguação e percepção do espaço, que difere do estriado quando feita por medições e propriedades (Idem, p.183-185). Sendo mensurável o espaço estriado precisa de referenciais. O espaço liso é nomos ao passo que o estreado possui logos. O nomadismo é liso, pois é direcional, trajetoria, deriva. Ele é marcado pelos rastros que se apagam e se deslocam durante o fluxo. A variação, a polivocidade, a diversidade de direções são características do espaço liso, enquanto o estriado é limitado e limitante, suas aatribuições são constantes, modulares e divisíveis por fronteiras. No estriado o movimento se dá funcionalmente, no liso se desencadeia como rizoma, como Corpo sem Órgãos, ou seja, sem organismo, sem organização. Porém, há um ponto que norteia o movimento nesses dois espaços. No estriado os movimentos estão subordinados aos pontos. A menor distância entre dois pontos é uma reta. Nele o movimento é de um ponto ao outro, passível de cartografia, de mapeamento. Diferentemente, no liso os pontos estão subordinados ao trajeto. São as paradas que determinam as marcações. Contundo, existem paradas e trajetos em ambos os espaços, mas no liso “é o trajeto que provoca parada”. Com isso, o espaço liso dispõe sempre de uma potência de desterritorialização superior ao estriado.domicílio.
A casa, sob uma análise da filosofia proposta por Deleuze, com sua organização de movimentação construída muito mais socialmente que antropologicamente, acaba por se constituir em espaço estriado. A sua subdivisão arquitetônica socialmente reconhecida em sala, cozinha, quarto,
banheiro, etc., constrói espaços estriados. Os aposentos possuem funções específicas, são delimitados, mensuráveis, estáveis em suas fronteiras. São construídos de acordo com uma lógica social vigente e não sob a necessidade subjetiva de seus moradores; necessidades lisas. Na sala eu recebo as visitas e para dormir eu me dirijo ao quarto. Há sempre dois pontos em uma casa; um de chegada e um de saída. Não nos perdemos nela. Não há, ou há pouco espaço para o liso, para o nômade.
Porém, pensando em sua densidade comunicacional, a casa não seria apenas estriada, guarda consigo predisposições ao liso. Nela há uma série de objetos, ou seja, uma densidade técnica, que favorecem o nomadismo, o liso. As bandejas, que desterritorializam a mesa de refeição, as televisões que se espalham entre os diversos aposentos e que conseguem apresentar simultaneamente a mesma informação, os móveis com seus rodízios e os híbridos entre sofás e camas, são alguns poucos exemplos de sua lisura técnica e informacional. Porém, a contemporaneidade nos impulsiona para o nomadismo e nossas casas ainda são templos imóveis.
A casa, sob uma análise da filosofia proposta por Deleuze, com sua organização de movimentação construída muito mais socialmente que antropologicamente, acaba por se constituir em espaço estriado. A sua subdivisão arquitetônica socialmente reconhecida em sala, cozinha, quarto,
banheiro, etc., constrói espaços estriados. Os aposentos possuem funções específicas, são delimitados, mensuráveis, estáveis em suas fronteiras. São construídos de acordo com uma lógica social vigente e não sob a necessidade subjetiva de seus moradores; necessidades lisas. Na sala eu recebo as visitas e para dormir eu me dirijo ao quarto. Há sempre dois pontos em uma casa; um de chegada e um de saída. Não nos perdemos nela. Não há, ou há pouco espaço para o liso, para o nômade.
Porém, pensando em sua densidade comunicacional, a casa não seria apenas estriada, guarda consigo predisposições ao liso. Nela há uma série de objetos, ou seja, uma densidade técnica, que favorecem o nomadismo, o liso. As bandejas, que desterritorializam a mesa de refeição, as televisões que se espalham entre os diversos aposentos e que conseguem apresentar simultaneamente a mesma informação, os móveis com seus rodízios e os híbridos entre sofás e camas, são alguns poucos exemplos de sua lisura técnica e informacional. Porém, a contemporaneidade nos impulsiona para o nomadismo e nossas casas ainda são templos imóveis.
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO:
Ewertton Nunes
1 comentários:
Hj, agora a pouco, estive em estado de torpor ao me deparar com a apresentação de um extrato do espetáculo "Perfume" do grupo de Dança "Espaço Liso" na Bienal de Arte, ciência e cultura do DCE/UFS.
Me dei conta, ao ver akeles 5 cinco corpos, o qnt nos engessamos no nosso cotidiano moderno e qnts possibilidades de expressão e sensibildade estão ao nosso dispor(propor).
Parabéns pessoal e obrigado por ampliar um poukinho a abertura subjetiva(ideia-percepto-sensitiva)que vem se engendrando dia-a-dia em mim.
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