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domingo, 27 de maio de 2012

"DOLORIR" - NOVO ESPETÁCULO!

foto: Denver Paraíso

"DOLORIR"
Novo espetáculo
Trata-se de um espetáculo de dança contemporânea que dialoga com outras linguagens tais como o teatro, o audiovisual, a poesia. Apropriando-se de um tema de grande destaque em nossa sociedade, “a violência contra a mulher”, a Espaço Liso, funde arte e compromisso social, criando um espetáculo rico em apelo estético e conceitual. “DOLORIR” retrata a história de quatro mulheres ameaçadas de morte pelos seus agressores que são encaminhadas a uma casa de proteção. Um lugar anônimo onde elas permanecerão até estarem prontas para recomeçarem as suas vidas em um contexto totalmente renovado. As personagens sofreram grandes traumas em decorrência da violência vivida, cicatrizes psicológicas e físicas que vão sendo desveladas no decorrer do espetáculo. À medida que vão dando voz a toda dor e medo, começam colorir esse sofrimento, vislumbrando ao final, possibilidades para seguir em frente. O processo de concepção deu-se de forma colaborativa através das redes sociais, numa troca com o público. Dessa forma, além de criar uma obra que dialogue com o público a que ela se destina, é possível ampliar a rede de discussão sobre o tema em questão e trabalhar a consciência coletiva acerca da importância da denúncia.




O novo espetáculo da Espaço Liso cia. de Dança, intitulado “DOLORIR”, torna-se relevante à medida que se soma à rede de ao combate à essa “doença social” que é a violência contra a mulher. A mídia vem mostrando a crescente realidade que fere direitos humanos de mulheres em todo o país, e elas são violadas de diversas formas. Em Sergipe, entre os meses de Janeiro e Fevereiro, cem casos de violência contra a mulher foram registrados pelas delegacias especializadas, ou seja, todo dia pelo menos uma mulher foi vítima de agressão. As estatísticas não refletem toda a realidade, uma vez que muitas mulheres permanecem silenciosas e não denunciam os seus agressores.

“A história das mulheres não é só delas, é também aquela da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura. É a história do seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e que praticaram, da sua loucura, dos seus amores, dos seus sentimentos”.
                                                              Mary Del Priore, História das Mulheres no Brasil, 2001.

Essas ideias antigas, de inferioridade e passividade das mulheres, herdadas dos gregos e romanos, foram atualizadas ao longo dos séculos e se reinventam na contemporaneidade sob novas roupagens, no espaço público e no mundo privado. “DOLORIR” pretende ser um disseminador um espaço de resistência feminina a essa cultura que acompanha as mulheres ao logo de séculos.

“As resistências femininas ao poder e à violência certamente não produzem ganhos permanentes, isonomia de condições e mudanças definitivas nas relações de gênero, mas fazem o pêndulo das correlações de força, que constituem essas relações de poder, oscilar, circunstancialmente, em duas direções: a favor de quem domina e a favor de quem é dominado.” (Foucault 1988; De Certeau 1999).


A proposta desse novo trabalho é se tornar um mediador nos espaços de discussão e deliberação acerca dessa temática. Um agente facilitador e libertador, associando-se às redes na luta em defesa dos direitos conquistados ao longo de anos pelas mulheres. Apresentaremos depoimentos verídicos e ficcionais a fim de ampliar as possibilidades de abordagem do mesmo tema, mostrando de forma ampla os níveis de violações que o gênero feminino sofre. As construções das personagens foram baseadas em histórias verídicas, em fatos que pelo seu teor de violência, se tornaram marcos fundamentais na defesa de direitos das mulheres no país, a exemplo do caso na garota Araceli que foi violentada de uma forma cruel com apenas 11 anos. Para não deixar esquecer essas situações de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes, o 18 de Maio, se tornou um dia de mobilização nacional por essa causa. Outra alusão é feita à história que marcou a vida de Maria da Penha, responsável pela Lei que leva o seu nome e é na atualidade a maior conquista para enfrentar a violência contra mulheres. Há também uma referência à história de Cristina, mulher queimada pelo marido e teve 80% do corpo queimado, após anos de cirurgias e tratamentos, hoje milita em favor da causa e é um exemplo de resistência. Dolorir parte do princípio de que a história de uma mulher é a história de todas as outras. Nísia, 24 anos, amasiada, três filhos, cursou até a 4ª série do Ensino Fundamental, cozinheira de restaurante, sustenta sozinha a casa, companheiro desempregado. Sempre que bebe ele a espanca e aos filhos (inclusive o menor, de 1 ano e 5 meses), “quebra tudo dentro de casa”, dizendo que “enquanto eu trabalho, eu arrumo homem”. Já tentou esfaqueá-la e jogou água fervendo nela, porque “cozinhei um repolho que ele ganhou, sem ele mandar”. Só agora, depois de muitos anos, resolveu denunciá-lo, porque passou a ameaçá-la de morte, o que, diz ela, já teria se concretizado se não fosse sua vizinha. Conta que certa vez saiu de casa com os filhos, ele foi buscá-la, melhorou um tempo, mas voltou a espancá-la depois. Reage chorando e reza muito. “Não tenho mais amor a ele não, não tenho mesmo... eu não dependo dele, pra nada, quero só é ser feliz com meus filhos, mas com homem atrás de mim eu não quero mais não (...) que mulher não nasceu pra aceitar assim, sofrendo desse jeito”. Diz também que sua sogra fica sempre do seu lado, pois também apanhava do marido. Geralmente se refugia na casa da mãe, que a acolhe, “mas não para ficar” definitivamente. Diz que também apanhou muito do pai, que espancava a mãe por ciúmes. Espera que “a delegada aconselhe ele a sair de dentro de casa e deixe minha vida e meus filhos que já tão tudo doente com medo dele”.

Ficha Técnica
INTÉRPRETES: Amelhinha Sá, , Eden Brísio, Ewertton Nunes, Fernanda Matos, Grace Di Tainá  e Luanda Ribeiro.
FIGURINO: Espaço Liso Cia. de Dança
COREOGRAFIA, DIREÇÃO E CONCEPÇÃO: Ewertton Nunes
(espetáculo feito em colaboração com o público)

MAQUIAGEM: Estevão Andrantos.

ILUMINAÇÃO: Sérgio Robson

OPERAÇÃO DE SOM: Nigroh Horgin 
MÚSICAS AUTORAIS: Ewertton Nunes
MÚSICAS CEDIDAS: Coutto e Orquestra de Cabeça
Imagens do “Canto de Cicatriz”documentário de Laís Chaffe



ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA ESPAÇO LISO: 

Ewertton Nunes